Quase verdade...
Em pequeno era comilão, dorminhoco, sorridente e calado. Tentava conversar sobre o seu dia, fazia-lhe perguntas, o resultado era sempre o mesmo - Oh mãe, não me apetece falar - acredito que não era por estar aborrecido, era talvez porque acordava cedo e estava cansado. Mas um dia, sem eu estar à espera, entrou dentro do carro e a conversa começou:
- Oh mãe sabes que morreu aqui um cavalo? - Colocava as pequenas mãos nos braços da cadeirinha.
- Um cavalo? - deve ter sonhado, pensei.
- Sim mãe, um cavalo!- Estava tão excitado.
- Então como é que o cavalo morreu? - Olhei pelo retrovisor, queria ver a sua reacção.
- Foi atropelado por um carro. -Ali perto existia um centro hipico, talvez fosse verdade.
- Então se o cavalo foi atropelado e morreu, quem é que o veio buscar?
- Os bombeiros, olha! - Talvez fosse verdade e eu aqui a desconfiar do miúdo. Sentia-me mal por não acreditar nele.
- Mas tu viste, filho? - Já eu estava entusiasmada com a história.
- Sim mãe, claro que vi. - Já estava chateado comigo por não acreditar naquela história. Coitado do miúdo.
- Ias no carro com o pai?
- Não ia com o pai, mas ia de carro. - Agora é que fiquei aflita, se não estava com o pai, estava com quem?
- Então se não ias com o pai, em que carro é que ias?
- Ora, ia no meu descapotável!!!
Tive que parar o carro, não conseguia conduzir, ria-me a bom rir. Esta conversa foi a melhor troca de palavras que tive com o meu filho, tinha cinco anos. Esta criatura gosta de histórias. Concerteza que uma parte da história do cavalo era verdadeira, outra parte ele não sabia como tinha acabado e o descapotável, bem, o pai dele tinha um naquela altura.
Amanhã é o teu dia, hoje continuas a ser aquela criança que contava histórias e que me fazias, orgulhosamente, rir. Treze anos de orgulho, felicidade e histórias. Amo-te.
"Os filhos são para as mães as âncoras da sua vida."